
Projeto Esperança: um novo olhar para o Sol Nascente
(coexistência habitação e natureza)
Autores: Millena Dutra e Anna Clara Monteiro
O Brasil no cenário contemporâneo apresenta-se como um local de muita desigualdade social/econômica, isso se reflete diretamente no urbanismo no contexto do acesso a moradias, a áreas verdes de qualidade, mobilidade, entre outros. Nesse aspecto diversas famílias encontram-se em situação de vulnerabilidade social e sem muitas opções ocupam locais irregulares que por muitas vezes são inapropriados para habitação podendo trazer riscos de acidentes, deslizamento e ocasionar perigo as famílias que ali habitam.
Um exemplo dessa situação e o caso do nosso estudo é a região do Pôr do Sol em Brasília. O projeto propõe-se a compreender e analisar possibilidades de integração de zonas verdes nas regiões adjacentes, trazendo qualidade de vida e lazer. Além de uma proposta de moradia para as famílias do Pôr do Sol e regiões próximas como uma nova possibilidade de qualidade de vida, agregando mobilidade, direito a moradia e lazer.

1. O Brasil e a RIDE DF

01. Mapa Brasil com destaque RIDE DF e BR070. Fonte: dados IBGE

02. Mapa RIDE e BR 070. Fonte: CODEPLAN e IBGE
A região de intervenção faz parte da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal, composta atualmente por mais de 23 distritos localizados entre as regiões do DF, Minas Gerais e Goiás. O Pôr do Sol e o Sol Nascente são das Regiões Administrativas do DF que mais cresce atualmente e conta hoje com mais de 80.000 habitantes

03. Mapa relação Df com a RIDE e BR070. Fonte: CODEPLAN e IBGE.
2. O DF

04. Mapa dos municípios da RIDE DF. Fonte: dados CODEPLAN
A região do Sol Nascente em contraste com sua área de influência imediata, a Ceilândia, apresenta diversos pontos de fragilidade social que refletem diretamente nos dados como presença de áreas verdes, calçadas, estrutura para mobilidade e entre outros. Dentro dessa análise foram tomadas estratégias para a tratar essas questões por meio do urbanismo social, trazendo propostas de soluções para esse novo território em expansão.

05.. Mapa Df. Fonte: Dados CODEPLAN/ Geoportal


06. Mapa base região Ceilândia. Fonte: dados CODEPLAN/ GeoPortal
A região era uma área rural até o início dos anos 1990, quando passou a ocorrer o fracionamento irregular de terrenos, situação que intensificou-se na década seguinte, o que provocou o crescimento desordenado e favela do local, que por muitos anos conviveu com condições mínimas de infraestrutura; somente em 2008 os dois grandes setores que atualmente compõem a região (Sol Nascente e Pôr do Sol) foram reconhecidos como setores habitacionais de Ceilândia. O Pôr-do Sol está ligando juntamente a Ceilândia, onde fazia parte antes de se tornar Região Administrativa. A partir de 2019, uma lei tornou a 32ª Região Administrativa os então bairros, Pôr-do-Sol e Sol Nascente

3. Cartografia e Diretrizes da Expansão
07. Mapa região e áreas de influência. Fonte: dados CODEPLAN/ GeoPortal
1. ÁREAS VERDES
- Parques Lineares: conectores vegetação com a paisagem, diversidade de usos e de tipologias
- Faixas de contenção: parque e área rural delimitadores expansão
- Pátios internos: todo conjunto deve possuir uma área verde fixa com diversidade de tipos de vegetação e equipamentos de lazer
- Bacias de drenagem: áreas de uso institucional devem prioritariamente estar em grandes áreas de jardim - conexão com a BR e com a Chapada - para o caminho e absorção de águas
A área atual da Ceilândia e Sol nascente o acesso a vegetação e a áreas verdes de qualidade é extremamente escasso, observa-se no mapa o contraste entre áreas eliminadas da cidade como o Plano Piloto e as áreas ditas mais carentes socioeconomicamente falando, são desprovidas do direto a vegetação. Além disso os problemas de impermeabilização do solo são recorrentes devido ao mal uso do solo e distribuição de vegetação. Com base nessas análises o projeto de expansão do Sol Nascente visa priorizar o acesso homogêneo e igualitário de áreas verdes de qualidade, promovendo novos espaços de lazer e contato com a natureza, além de promover grandes áreas de drenagem natural para infiltração dos solos

Diagrama áreas verdes. Fonte: GeoPortal
2. ACESSIBILIDADE
- Caminhabilidade: todas as calçadas em vias coletoras devem possuir mais de 3m e em áreas internas o mínimo 2m
- Transporte: presença de terminais e paradas pelo menos a cada 500m
- Ciclovia: as principais avenidas devem possui no mínimo 1 faixa de 1,5m de circulação de ciclovia - conexão com a ciclovia existente na Ceilândia -
A área da Ceilândia como um RA consolidada possui um sistema de integração de seus sistemas de mobilidade relativamente satisfatório, entretanto a região do Sol Nascente como uma área ainda não consolidada expressa uma grande carência nos recursos de mobilidade e acessibilidade. O sistema cicloviário na região é inexistente, além da ausência de vias de grande porte para abastar a população de grande fluxos de mobilidade e comportar sistemas como metrô e paradas de transporte coletivo, que são escassas no local.

. Diagrama sistema cicloviário. Fonte: GeoPortal

. Diagrama transporte público. Fonte: dados GeoPortal

Diagrama hierarquia viária. Fonte: dados GeoPortal
3. ECONOMIA
- Incentivo ao comércio: área de transição com parque e com a BR deve possui uso misto ou comercial para mobilizar a economia local
-Feira rural: implantação comércio rural próximo a BR - localidade para incentivar o comércio rural-
- Conexão com a BR: grandes áreas verdes com pontos comerciais devem fazer a transição da avenida de trânsito rápida para a área da expansão
-A nova avenida principal "Nascer do Sol" deve ser um novo ponto de comércio e movimentação econômica
O sistema de uso do solo da região onde será concebidas a expansão encontra-se em quadro de monotonia econômica, onde h[a pouco incentivo ao comércio local e a áreas institucionais de esporte, cultura e lazer. O local possui a maior parte de sua área destinada a usos residenciais, alguns locais de uso industrial e poucas áreas de comércio próxima a habitações. A partir desse cenário a nova expansão procura trazer diversidade econômica para região, com edifícios de uso misto, áreas especiais de comércio, hotelaria, áreas rurais e outros, visando a maior mobilidade de recursos na região e promovendo a integração com os setores da economia local.

Diagrama uso do solo. Fonte: GeoPortal
4. SAÚDE, EDUCAÇÃO E SEGURANÇA
- Equipamentos públicos:
Educação: Creche raio máximo de 300m / Ensino fundamental raio máximo 1000m / Ensino médio raio máximo 5000m.
Saúde: Centro médico raio máximo 5000m / Posto de saúde raio máximo 1000m
Segurança: Posto policial raio máximo 2000m
Cultura: Centro cultural raio máximo 5000m / Equipamento cultural raio máximo 2500m
A região da Ceilândia é um dos grandes espaços culturais de Brasília, tendo muito a oferecer a população da cidade, além de ser um local bem abastecido com escolas primárias e secundárias, entretanto, por um outro lado, a região do seu entorno, no Sol Nascente é totalmente desprovida de dispositivos institucionais de lazer e cultura, além também da segurança e esporte. A área conta com pouquíssimos pontos de equipamento culturais para atender a grande demanda da sua população, visando questionar essa situação o projeto de Expansão Sol Nascente trabalha incisivamente na acomodação de pontos de todos os recursos institucionais, tais como escolas de todos os níveis de escolaridade, postos e centros de saúde, postos policiais e diversos equipamentos de lazer e esporte

Diagrama de equipamentos urbanos. Fonte: GeoPortal.

Diagrama mobiliários de lazer. Fonte: GeoPortal.
6. HABITAÇÃO
- Variabilidade de tipologias na mesma quadra para trazer diversidade aos moradores de comércio e tipologia habitacional
- Toda quadra deve possui uma praça central/ ponto de convivência com equipamentos públicos e áreas verdes livres
- Conexão rural: a área próxima a chapada deve possuir menores índices de ocupação - grandes propriedades e parque - para realizar a transição suave da área urbana para a vegetação cerrado
- Altura limite: A altura dos edifícios não deve ultrapassar de 6 pavimentos
Um dos grandes pontos sensíveis na área é a questão habitacional, no mapa de densidade urbana podemos observar como a região é densa em quantidade de habitantes por área e o Pôr do Sol apresenta-se como uma área em constante expansão e que necessita de um tratamentos urbano e habitacional para suprir as necessidades da população em crescimento. Nesse sentido propõe-se um projeto de expansão do Pôr do Sol em sua região mais ao Sul, propondo uma área nova, com traços do tecido urbano existente mas trazendo novos tipos de habitação para o local. O projeto dispõe-se a trazer diversidades tipológicas habitacionais para a Ceilândia e Sol Nascente, como edifícios de 6 pavimentos e grandes conjuntos habitacionais para suprir a demanda habitacional da região

Diagrama densidade urbana. Fonte: GeoPorta

Observa-se que a situação da infraestrutura urbana e a qualidade das ruas em Sol Nascente/Pôr do Sol é precária, diferindo significativamente do observado para Ceilândia.Os diagramas de análise refletem acima de tudo a fragilidade da região. Essa mostra-se através da ausência de equipamentos essenciais a população tais como fácil acesso transporte público, ciclovias e calçadas que valorizem o pedestre. Os pontos de serviços como comércio e equipamentos básicos de saúde, segurança e escolas apresentam-se escassos e distantes do local. No mesmo passo o acesso as áreas verdes e mobiliários de lazer se dissipam na região mostrando-se mais concentrados em todo o entorno e em déficit na região de intervenção.
Nota-se que a infraestrutura de ruas para ambas as localidades difere consideravelmente. A maioria dos domicílios de Ceilândia possui ruas asfaltadas, com calçada e meio fio e com rede de coleta de água pluvial. O contrário acontece em Sol Nascente/Pôr do Sol, onde um pequeno porcentual dos domicílios apresentam ruas asfaltadas (30,88%), a presença de calçada e meio fio é baixa (22,43% e 20,40% respectivamente) e poucos domicílios contam com ruas com rede de coleta de água pluvial (24,45%). Observa-se que a situação da infraestrutura urbana e a qualidade das ruas em Sol Nascente/Pôr do Sol é precária, diferindo significativamente do observado para Ceilândia.
4. A proposta
A região adotada para implantação do projeto encontra-se em uma área relativamente plana e vazia próxima a áreas da chapada no Sol Nascente. O local próximo a BR 070 conta com diversos lotes vazios sem nenhum tipo de trabalho urbano, disso modo, procura-se criar um novo setor para esta área da Região Administrativa que se conecte com o tecido urbano existente mas ao mesmo passo traga novidades urbanísticas e tipológicas para a região.

Área de intervenção na Região Administrativa de Ceilândia

O local escolhido possui aspectos especiais que precisam ser observados quanto ao tratamento das bordas da cidade e da interação do urbano com a natureza. O projeto se expande em direção a chapada, entretanto, procura-se como um dos pontos focais do projeto o trabalho dessas áreas de transição com diferentes tipos de habitação para promover um declínio suave da demografia habitacional conforme o projeto se aproxima das áreas de reserva ambiental.
Direcionamento expansão Sol Nascente

18. Mapa áreas verdes expansão Sol Nascente

Cortes urbanos AA e BB

Indicações de cortes
Avenida Nascer do Sol

Mapa sistema viário expansão Sol Nascente.
A malha viária foi definida a partir do partido existente e das topografia local, ela se adapta com a intenção de criar uma interface entre o novo modelo de quadras e o modelo já existente. A avenida principal Nascer do Sol se conecta da BR 070 até a avenida que desemboca na avenida Elmo Serej0 e Hélio Prates.
As avenidas foram dispostas entre a via principal de trânsito mais rápido e as vias coletoras que visam diminuir o impacto das vias rápidas para as vias locais que são de trânsito mais lento para permitir maior caminhabilidade aos m0radores


A grande avenida Nascer do Sol é um ponto conector forte no projeto, esta via de grandes dimensões propõe abrigar faixas exclusivas de ônibus, ciclovias de mão dupla, áreas de acesso e caminho de pedestres, caracterizando-se assim, como ponto foco da circulação de pessoas e da caminhabilidade e deslocamento de pedestres. Esta avenida se propõe a se conectar com as grandes avenidas principais da Ceilândia, criando assim uma nova conexão para o eixo sudeste da cidade, conectando os setores.

Corte Viário CC Avenida Nascer do Sol.


A nova ciclovia da expansão visa se conectar com a ciclovia existente na Ceilândia e trazer maior mobilidade para a região. As vias destinadas a bicicletas passam pelas vias mais importantes do projeto, onde existentes pontos de atratividade, alta movimentação e paradas para os ciclistas, como os pontos de comércio e grandes áreas de vegetação e parque. Do mesmo modo procurou-se criar uma expansão do sistema de transporte coletivo, criando linhas de ônibus e novas paradas de forma que a [area seja passível de um transporte público integrado

Mapa sistema cicloviário expansão Sol Nascente.

Diagrama de linhas e paradas de transporte coletivo

Mapa classificação uso solo expansão Sol Nascente.
O projeto divide-se basicamente em 4 tipologias: residencial, uso misto, comercial e áreas institucionais. Essas tipologias são divididas de acordo com a dinâmica do local, as áreas residenciais se voltam para áreas mais internas e voltadas para o partido existente, já as áreas de uso misto e comercial encontram-se voltadas para áreas abertas e de maior movimentação como assim bordas de grandes vias.
O uso misto é utilizado em quadras também como forma de trazer um comércio local e mais próximo para os moradores. Além desses existem espaços destinados exclusivamente a equipamentos urbanos como creches, hospitais, postos de saúde, lazer e entre outros.

Mapa localização equipamentos urbanos expansão Sol Nascente.
6. As quadras e tipologias habitacionais

Diagrama conjuntos habitacionais expansão Sol Nascente.

Diagrama funcionamento interno conjunto

Corte DD conjuntos habitacionais





A quadra que possui as tipologias de conjunt0s habitacionais são dispostas entre uma praça central principal que forma um grande ponto de convivência comum aos blocos, além dessa praça parte-se do partido de todo centro de conjuntos deve possuir uma área verde comum própria, estes seriam espaços comunitários entre os blocos de cada conjunto.
As áreas de conjunt0 habitacional deve possuir áreas verdes fixas e os edifícios devem respeitar o espaço de respiro entre 0s blocos, além disso cada conjunto conta com 2 áreas de estacionamento e vagas para os moradores e para o comércio de uso misto que existe na quadra

Diagrama quadras habitacionais expansão Sol Nascente.
A quadra habitacional mais tradicional dispõe casas germinadas junto a tipologias de 4 pavimentos dispostas em L em torno de uma quadra de casas central, a partir dessas se estabelecem pontos de áreas verdes e de equipamentos fixos divididos em 2 espaços, um de cada lado da quadra.
Além das casas germinadas e das habitações foram dispostos edifícios de uso misto em pontos estratégicos de conexão com as vias locais, que apoia tanto a quadra em que se encontras como as adjacentes. Pontos de estacionamento e vagas foram dispostos próximos as áreas de comércio mas também atendem aos residentes da quadra.

Diagrama funcionamento interno da quadra



7. Tipologias de edificações

Tipologias habitacionais expansão Sol Nascente.
Os tipos de edificação do projeto diferenciam-se desde casas unifamiliares até grandes complexos habitacionais promovendo uma grande diversidade tipológica dentro da nova expansão. Todas as tipologias visam a caminhabilidade e passagem de pedestres permitindo fluxo de pessoas, ventilação e luminosidade. As tipologias apresentadas são as básicas de composição das quadras e conjuntos do projeto. O tipo multifamiliar de 6 pavimentos procura abrigar famílias maiores em grandes condomínios com apartamentos entre 150 e 195 m2 , já a habitação multifamiliar do tipo kitnet procura abrigar famílias menores, solteiros e casais em conjuntos de apartamentos de em média 60 m2
Os tipos de uso misto procuram integrar a comunidade trazendo pequenos comércios nos térreos das edificações habitacionais, estes se dispõe entre as quadras para atender a necessidade básica local como pequenos mercados, farmácias e lojas menores. Além do comércio essa tipologia conta com 2 andares de apartamentos em média de 120 m2, estes edifícios são mais baixos para não constrastarem com as baixas alturas das casas. As casas unifamiliares são tipos básicos de composição de quadra atendendo as necessidades de tarde parte da população, esse tipo possui lotes de 20x10 com 200m2 e são o tipo básico de habitação familiar. Por último existem as tipologias exclusivamente comerciais que são as galerias comerciais, essas visam trazer um espaço mais complexo e completo de comércio para o local além de grandes áreas de convivência e lazer
8. Área rural - transição demográfica
O projeto de expansão sol Nascente conta com uma área de habitações rurais voltadas para plantio e colheita, além disso a grande feira rural próxima a BR 070 é um novo diferencial para a área trazendo diversidade de comércio e valorizando a cultura local. A feira se propõe a ser um local de convivência onde existem hortas e plantações coletivas e casas de comércio, interação com os animais e com a natureza
a área rural da expansão tem um papel fundamento no trabalho de bordas da cidade, criando uma transição entre as altas densidades urbanas para áreas menos densas, com maiores índices de vegetação e que conversam em harmonia com as beiras de chapada ao redor da região o local mostra-se como uma barreira natural pra o crescimento desenfreado da cidade.





9. Perspectivas contexto geral




10. Maquete




